5 de mai. de 2008 14:38 - :: ultranol ::

Who should pick up the red phone at 3 AM?

Trabalhei nesse último feriado. Não me incomodo de trabalhar em horários e dias bizarros, até porque isso é praticamente inerente à minha função, administrador de bancos de dados. Se o banco de dados cai, todos os sistemas que dependem dele ficam inoperantes. Porém, alguns desses sistemas devem ficar ativos o tempo todo. Portanto, não importa a hora, nós devemos ver o que está acontecendo. A parte boa é que temos acesso à rede do trabalho via Internet, através de um troço chamado VPN (traduzindo, rede virtual privada). Com isso, a maioria das coisas que precisaríamos fazer estando aqui dentro, podemos fazer de casa numa hora de emergência.

Na semana passada ocorreram diversos problemas de natureza elétrica aqui no meu trabalho. Os servidores precisaram ser desligados e ligados várias vezes. Nada demais, só que ligar e desligar servidores que custam milhões de reais é algo um pouco mais complicado que apertar o "power" - alguns demoram até meia hora para completar todo o processamento. Desligar no "dedoff" não é uma opção. É pra isso que temos múltiplos no-breaks e ainda um gerador movido a diesel.

Quarta-feira à noite parecia que tudo havia sido resolvido, só iriam desligar uma chave que alimentava as estações de trabalho. Só que o cara da elétrica, que já devia estar há umas 40 horas acordado, desligou a chave errada, a dos servidores! Nessa hora, eu tinha acabado de chegar em casa e estava conversando com minha mãe... quando me ligam desesperadamente do trabalho me contando o problema.

Como talvez saibam, um banco de dados é um programa, um software, como o seu Microsoft Word ou Internet Explorer, obviamente um pouco mais difícil de se mexer, hehehe. Quando o programa dá pau, meu trabalho é verificar o problema e, se ele fechar sozinho, tenho que iniciar esse programa de novo. Pra isso, o sistema operacional, digamos, o Windows, precisa estar... operacional, certo? Adianta, com o computador desligado, tentar iniciar o Word?

Aí começa o papo de maluco. O cara que me ligou é um ex-gerente de projeto que acabou de mudar de setor, mas estava "ajudando" no problema temporariamente:

- Pega um táxi e vem correndo pra cá! Porque o cara desligou a chave, blá, blá, blá...
- Olha só, não tenho dinheiro nem voucher pra pegar táxi.
- OK, peraí... [conversa com alguém atrás] O coordenador autorizou sua viagem pela Coopataxi...
- OK... mas o administrador UNIX [responsável por ligar o servidor] está indo também?
- Ah, a gente tá chamando ele...

Maluquice 1: adianta chamar o pintor se ainda nem ergueram o muro?

- OK, quando o cara chegar aí, me avisem, eu posso fazer isso de casa e...
- Mas a VPN tá fora! O cara de Windows não tá querendo ligar...
- OK, se não tiver como fazer daqui, vou aí.

Fui bastante calmamente ao meu computador e vi que existia um acesso disponível, através de uma VPN extra.

Daí chegou o administrador UNIX. Ele é o responsável pelo servidor ligar e ficar disponível. Assim que ele foi ligando, sem mesmo me avisar, eu já fui iniciando os bancos de dados. O meu coordenador me liga:

- Olha só, acho que o rapaz conseguiu iniciar a VPN.
- Os bancos de dados já tão no ar.
- Como? Como você conseguiu?
- Fui pela outra VPN [nem ele lembrava que tinha uma extra].
- Ah, legal! Falta só o banco principal, o servidor ainda tá subindo, tá com uns problemas...
- OK, estou em contato com ele.

O cara do UNIX subiu o servidor e tentou iniciar o banco sozinho. Deu um erro. Ligou desesperado:

- Cara, vem pra cá, não tô conseguindo subir o banco.
- Calma, deixa eu olhar.

Demorou um tempo e consegui consertar o problema. Em casa.

- Aí, tá no ar, consegui subir.
- Ah... OK.

Pra finalizar, liga o coordenador:

- Olha só, amanhã [feriado] é pra tar todo mundo às 11h lá.
- Ah é?
- É, o diretor quer que estejamos presentes. Vamos desligar e ligar tudo de novo.
- Ah, a gente ligou tudo agora, na pressa, pra desligar e ligar tudo de novo depois?
- É. Amanhã lá pelas 10h vão mexer na elétrica e o diretor quer que estejamos lá pra ligar tudo.
- OK.

No dia seguinte, cheguei no horário combinado. Estava eu e mais alguns coitados. Não todos. O diretor estava lá, entusiasmado, acompanhando o trabalho do pessoal da elétrica... e tudo o mais estava desligado. Tudo, servidores, estações de trabalho, etc. Não dava nem pra jogar paciência.

Maluquice 2: qual a causa, motivo, razão ou circunstância de fazer as pessoas irem a um local, num feriado, para nada? Fazer nada por fazer nada, preferia fazer nada em casa!

Onze e meia... meio-dia... o diretor chega e fala:

- Olha só, a previsão é de ligar tudo às 13h, só... vamos sair pra almoçar?
- Sair pra almoçar? No centro do Rio? Tá tudo fechado!
- Não, que é isso, o McDonalds tá aberto...
- Não, não está, passei por ele pra vir pra cá.
- Mas tem algumas coisas abertas.
- Não, não tem, de sábado até tem, mas hoje é feriado.
- Ah, é...

Então ele pediu pra ligarmos pra quem estava ainda vindo pra não chegar tão cedo. Ligou pro coordenador, e perguntou onde estavam os analistas das equipes que lidam com software (e-mail, sistemas, sites, etc). Ele simplesmente responde que eles iam fazer seus deveres em casa, via VPN...

Eu estava fazendo o quê, ali, então?

Não aguentei e argumentei com o diretor que podia fazer tudo de casa. Ele tentou rebater que ontem o administrador UNIX teve problemas ao iniciar o banco, porém, sem cabimento, pois eu resolvi esse problema remotamente. Deixei claro que, se não houver alternativas eu venho, sem problemas.

Não suporto ficar no trabalho além do horário sem motivo. Inclusive não consigo conceber que tem pessoas que, acabando o horário de trabalho, ficam "enrolando", batendo papo, etc. Sei lá, vai ver é porque eu adoro minha casa... (?)

Agora, qual era a intenção de chamar a gente pra ir lá sem nenhuma atividade para fazermos? Torcer pra tudo dar certo? Energia positiva? Falando sério, será que na cabeça desses gerentes, eles se sentem bem em olhar os funcionários todos ali, parados, sem fazer nada, e dizer: "olha, que legal, eu mando em todos eles! Fiz eles virem pra cá num feriado"? Sentem prazer em ver que têm o poder de arbitrariamente estragar um dia de folga de alguém a troco de nada?

Já escutei falar de empresas liberais, que o funcionário pode trabalhar de casa caso seja possível, mesmo em horário comercial normal, mas francamente, empresas assim acho que são que nem enterro de anão, cabeça de bacalhau e ganhador da Tele-Sena: ninguém consegue provar a existência.

Sinceramente, espero que o modo de trabalho no Canadá seja diferente. Pelo que leio por aí, lá se tem um pouco mais de preocupação com a qualidade de vida do empregado.

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4 Comentários:

Blogger Carrie Bradshaw Tupiniquim da Silva disse...

sabe o q essa situaçaõ me lembrou? the office! seu gerente é tão babaca e sem noçaõ como o do seriado... é, acho q é um jeito de controlar as pessoas, mostrar "whos the boss?" pra vc perceber, no final, q ele não entende patavina no q vcs trabalham... aff

5/5/08 21:58  
Blogger K disse...

Acho que grande parte disso tem a ver mesmo com o exercício do poder... Eles devem pensar que se eles têm que estar ali, então os pobres mortais abaixo deles devem estar também. Aqui no meu trabalho não é diferente...

Melhores trabalhos virão :)

K.

6/5/08 11:33  
Blogger L. Archilla disse...

só um conselho: nunca preste concurso público!!!

6/5/08 21:52  
Anonymous Anônimo disse...

Isso é igaul em qqer empresa do brasil, qqer area.
O cara quer ter o tal plano B,C,D e alguem de platnão pra qqer eventualiade

31/7/08 16:46  

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