Garantia de um ano
Uma das coisas que definitivamente funcionam melhor em países desenvolvidos é a troca de uma mercadoria que você comprou. Se tiver um tempinho de ler as duas histórias abaixo, com a finalidade de fazer uma comparação, divirta-se.
Ontem quase tive um infarto ao tentar trocar um mouse que quebrou com uma semana de utilização. Comprei o periférico há menos de um mês, em uma loja que fica aqui no centro do Rio mas fica meio longe pra ir andando. Paguei R$ 5 pra entregarem no meu trabalho. Quando fui usar, verifiquei que a "rodinha" (scroll) do mouse era muito mais dura que o normal. Aí, parceiro, acabou a mamata: toca andar vinte minutos no sol escaldante pra chegar na Cinelândia trocar o equipamento na loja. Ah, e mais vinte pra voltar.
Fui lá no mesmo dia. Além da peregrinação pra chegar ao local, o tempo gasto pra esperar o elevador que leva à sala 1308 foi de mais uns quinze minutos. Cheguei no estabelecimento, mostrei o equipamento, ainda levei vários mouses pra que pudessem comparar e ver que o scroll realmente está com problema, deram uma olhada, pensaram um pouco, e trocaram. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), ao fazer uma compra por catálogo ou internet, tenho sete dias de prazo para trocar o produto sem nenhum aborrecimento. Apesar disso, perguntei se não poderiam trocar por um mouse de outra marca, pois estava desconfiado que a marca Bright que era uma porcaria e não só aquele mouse, desconfiança que depois iria se provar útil. Não quiseram.
Trouxe o mouse novo pro trabalho, usei normalmente por mais ou menos uma semana - quero dizer, o scroll do novo mouse era melhor mas não era aquelas coisas, mas estava utilizável. De repente... clonk! A rodinha do mouse afunda. O mecanismo quebrou por dentro e o scroll agora está parado. Mais uma caminhada... deixei até pra outra semana, pra poder juntar com outras tarefas que precisava fazer praqueles lados da cidade.
Chegando lá, ontem, mostrei o equipamento mais uma vez, mas a surpresa foi que as atendentes falaram que não podem trocar o mouse pois ele está quebrado, e quando está quebrado, perde a garantia! Tentei argumentar, dizendo que, se com uma semana o mouse quebra em situação normal de uso, obviamente é um defeito de fabricação, mas sem sucesso. O pior é que a loja não quis nem receber o mouse para analisar se a quebra foi forçada ou se foi em utilização normal, como consta no termo de garantia da própria loja, que aliás, realmente, contém em sua primeira cláusula o seguinte: "a garantia é perdida caso o equipamento não esteja em perfeito estado físico", que é considerada nula devido ao Art. 51 do CDC, parágrafos I e IV, pois implica a renúncia do direito de garantia, é uma obrigação iníqua e incompatível com a boa-fé.
Uma das atendentes disse: "Ah, volta depois quando o responsável pela loja estiver aqui". Expliquei que não é possível ficar perdendo horas de almoço uma atrás da outra por um problema que não é meu. Ela teimou que não poderia receber o equipamento. Então falei que, se fosse para perder hora de trabalho ou de almoço, que iria direto na Justiça. A outra atendente simplesmente diz, com a maior desfaçatez: "Pois vá! Pode ir!" A outra atendente, mais calma, disse que o máximo que poderia fazer era ligar depois para falar com Anderson, o responsável e provavelmente dono da loja. Resolvi ir embora e falar depois com esse rapaz.
Lá pelas três da tarde, liguei para o tal Anderson. A funcionária do "show" da hora do almoço atendeu o telefone, e ao chamar o responsável, contou a história pra ele antes dele vir me atender. Percebi que ao ouvir a versão da mulher, o cara começou a discutir com ela.
Depois de um minuto, veio falar comigo. Confirmou que a loja errou ao não receber meu mouse, mas que precisaria ir lá levar o produto para análise. Peraí, a loja errou e eu continuo me ferrando? Falei que já havia ido lá e que se a loja não recebeu, ela é que deve vir buscar agora. Ele reclamou que não "tem como". Falou que a loja errou, pediu "mil desculpas" mas não tem como. Ué, se eu paguei cinco reais pro motoqueiro entregar o produto aqui, ele não pode pagar cinco reais pro motoqueiro vir buscar? Cinco reais agora é tanto assim? Depois de discutir por algum tempo eu falei exatamente isso pra ele e ele respondeu: "não, não posso pagar cinco reais, às vezes pode ser muito pra mim". De pronto, respondi: "Pois se eu for na Justiça vai ficar bem mais caro que cinco reais, e eu vou, pois a loja se recusou a efetuar troca que é um direito básico do consumidor". Ele respondeu que estava se propondo a trocar, agora. Só agora? A loja já errou. Não tem mais "agora", respondi.
Nesse momento então ele propôs: "Então vamos encerrar o caso, você não iria vir pra cá uma vez para entregar o mouse para análise e outra vez para vir buscar? Então venha aqui que eu troco o seu mouse na hora". Respondi que não confiava mais nessa marca e não queria um mouse igual. Ele, então, se rendeu: "então venha cá que eu devolvo o seu dinheiro. Está bom assim?"
Hoje eu vou lá sem a certeza que vou resolver o problema.
UPDATE: devolveram o dinheiro. A funcionária, que antes estava toda confiante, esbravejando para que eu fosse na Justiça, não olhou nem na minha cara para me entregar as notas.
Tempo gasto: 288:00:00 (12 dias)
Em 2004, minha esposa comprou uma chapinha no hipermercado Target, em uma cidadezinha da Flórida, lá pelas dez da manhã de um dia de novembro. Voltamos para a casa aonde ficamos hospedados e ela quis usar a sua nova traquitana. Abriu a embalagem de plástico com uma tesoura (era daquelas embalagens impossíveis de se abrir com a mão), colocou na tomada, passou no cabelo. Funcionava direitinho. Porém, ela achou que a maneira de se segurar a chapinha era meio "estranha", se é que isso é possível, hehe. Ao meio-dia, mais ou menos, voltamos ao estabelecimento, trazendo a nota fiscal, a embalagem rasgada e o equipamento. O diálogo foi mais ou menos esse:
- Hi, I'd like my money back, please, I'm not satisfied with this product.
- Oh, you didn't like it? OK, just a second.
Em 20 segundos, estava no balcão, à nossa disposição, o exato valor em dólares do produto devolvido.
Tempo gasto: 2:00:00
Resumindo...
Qualidade de vida vai muito além do fato de andar na rua tranqüilo, sem se preocupar com violência, passando por lugares limpos e organizados. A injustiça atual nos ataca até quando estamos sentados, no trabalho, ao telefone, nos deixando sujeitos até a problemas sérios de saúde causados por palpitação, ansiedade, dor de cabeça, e por assim em diante.
Ontem quase tive um infarto ao tentar trocar um mouse que quebrou com uma semana de utilização. Comprei o periférico há menos de um mês, em uma loja que fica aqui no centro do Rio mas fica meio longe pra ir andando. Paguei R$ 5 pra entregarem no meu trabalho. Quando fui usar, verifiquei que a "rodinha" (scroll) do mouse era muito mais dura que o normal. Aí, parceiro, acabou a mamata: toca andar vinte minutos no sol escaldante pra chegar na Cinelândia trocar o equipamento na loja. Ah, e mais vinte pra voltar.
Fui lá no mesmo dia. Além da peregrinação pra chegar ao local, o tempo gasto pra esperar o elevador que leva à sala 1308 foi de mais uns quinze minutos. Cheguei no estabelecimento, mostrei o equipamento, ainda levei vários mouses pra que pudessem comparar e ver que o scroll realmente está com problema, deram uma olhada, pensaram um pouco, e trocaram. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), ao fazer uma compra por catálogo ou internet, tenho sete dias de prazo para trocar o produto sem nenhum aborrecimento. Apesar disso, perguntei se não poderiam trocar por um mouse de outra marca, pois estava desconfiado que a marca Bright que era uma porcaria e não só aquele mouse, desconfiança que depois iria se provar útil. Não quiseram.
Trouxe o mouse novo pro trabalho, usei normalmente por mais ou menos uma semana - quero dizer, o scroll do novo mouse era melhor mas não era aquelas coisas, mas estava utilizável. De repente... clonk! A rodinha do mouse afunda. O mecanismo quebrou por dentro e o scroll agora está parado. Mais uma caminhada... deixei até pra outra semana, pra poder juntar com outras tarefas que precisava fazer praqueles lados da cidade.
Chegando lá, ontem, mostrei o equipamento mais uma vez, mas a surpresa foi que as atendentes falaram que não podem trocar o mouse pois ele está quebrado, e quando está quebrado, perde a garantia! Tentei argumentar, dizendo que, se com uma semana o mouse quebra em situação normal de uso, obviamente é um defeito de fabricação, mas sem sucesso. O pior é que a loja não quis nem receber o mouse para analisar se a quebra foi forçada ou se foi em utilização normal, como consta no termo de garantia da própria loja, que aliás, realmente, contém em sua primeira cláusula o seguinte: "a garantia é perdida caso o equipamento não esteja em perfeito estado físico", que é considerada nula devido ao Art. 51 do CDC, parágrafos I e IV, pois implica a renúncia do direito de garantia, é uma obrigação iníqua e incompatível com a boa-fé.
Uma das atendentes disse: "Ah, volta depois quando o responsável pela loja estiver aqui". Expliquei que não é possível ficar perdendo horas de almoço uma atrás da outra por um problema que não é meu. Ela teimou que não poderia receber o equipamento. Então falei que, se fosse para perder hora de trabalho ou de almoço, que iria direto na Justiça. A outra atendente simplesmente diz, com a maior desfaçatez: "Pois vá! Pode ir!" A outra atendente, mais calma, disse que o máximo que poderia fazer era ligar depois para falar com Anderson, o responsável e provavelmente dono da loja. Resolvi ir embora e falar depois com esse rapaz.
Lá pelas três da tarde, liguei para o tal Anderson. A funcionária do "show" da hora do almoço atendeu o telefone, e ao chamar o responsável, contou a história pra ele antes dele vir me atender. Percebi que ao ouvir a versão da mulher, o cara começou a discutir com ela.
Depois de um minuto, veio falar comigo. Confirmou que a loja errou ao não receber meu mouse, mas que precisaria ir lá levar o produto para análise. Peraí, a loja errou e eu continuo me ferrando? Falei que já havia ido lá e que se a loja não recebeu, ela é que deve vir buscar agora. Ele reclamou que não "tem como". Falou que a loja errou, pediu "mil desculpas" mas não tem como. Ué, se eu paguei cinco reais pro motoqueiro entregar o produto aqui, ele não pode pagar cinco reais pro motoqueiro vir buscar? Cinco reais agora é tanto assim? Depois de discutir por algum tempo eu falei exatamente isso pra ele e ele respondeu: "não, não posso pagar cinco reais, às vezes pode ser muito pra mim". De pronto, respondi: "Pois se eu for na Justiça vai ficar bem mais caro que cinco reais, e eu vou, pois a loja se recusou a efetuar troca que é um direito básico do consumidor". Ele respondeu que estava se propondo a trocar, agora. Só agora? A loja já errou. Não tem mais "agora", respondi.
Nesse momento então ele propôs: "Então vamos encerrar o caso, você não iria vir pra cá uma vez para entregar o mouse para análise e outra vez para vir buscar? Então venha aqui que eu troco o seu mouse na hora". Respondi que não confiava mais nessa marca e não queria um mouse igual. Ele, então, se rendeu: "então venha cá que eu devolvo o seu dinheiro. Está bom assim?"
Hoje eu vou lá sem a certeza que vou resolver o problema.
UPDATE: devolveram o dinheiro. A funcionária, que antes estava toda confiante, esbravejando para que eu fosse na Justiça, não olhou nem na minha cara para me entregar as notas.
Tempo gasto: 288:00:00 (12 dias)
Em 2004, minha esposa comprou uma chapinha no hipermercado Target, em uma cidadezinha da Flórida, lá pelas dez da manhã de um dia de novembro. Voltamos para a casa aonde ficamos hospedados e ela quis usar a sua nova traquitana. Abriu a embalagem de plástico com uma tesoura (era daquelas embalagens impossíveis de se abrir com a mão), colocou na tomada, passou no cabelo. Funcionava direitinho. Porém, ela achou que a maneira de se segurar a chapinha era meio "estranha", se é que isso é possível, hehe. Ao meio-dia, mais ou menos, voltamos ao estabelecimento, trazendo a nota fiscal, a embalagem rasgada e o equipamento. O diálogo foi mais ou menos esse:
- Hi, I'd like my money back, please, I'm not satisfied with this product.
- Oh, you didn't like it? OK, just a second.
Em 20 segundos, estava no balcão, à nossa disposição, o exato valor em dólares do produto devolvido.
Tempo gasto: 2:00:00
Resumindo...
Qualidade de vida vai muito além do fato de andar na rua tranqüilo, sem se preocupar com violência, passando por lugares limpos e organizados. A injustiça atual nos ataca até quando estamos sentados, no trabalho, ao telefone, nos deixando sujeitos até a problemas sérios de saúde causados por palpitação, ansiedade, dor de cabeça, e por assim em diante.
Marcadores: Brasil, Cotidiano, Estados Unidos
6 Comentários:
Pois é, já tive experiências aqui e lá com trocas e devoluções e, definitivamente, não tem comparação mesmo!
Abs
Nem me fale! A mesma coisa que aconteceu com o mouse aconteceu comigo, só que com uma webcam que eu comprei pro meu chefe (eu ia passar na frente da loja). Veio quebrada (foi o que o meu chefe disse), a loja diz que perdeu a garantia e, como estava às vésperas do meu casamento, eu devolvi o dinheiro pro meu chefe e fiquei no prejuízo. Me vira o estômago pensar nisso e no que aquelas pessoas falaram pra mim. É bom pra aprender a não comprar, nunca, jamais, no infoshopping (a não ser que você conheça a loja e teste o produto na hora).
Beijo,
K.
Infelizmente essa situação é apenas a ponta visível de um iceberg.
Tente reclamar e pedir a troca de um produto mais caro como um carro...a novela se extende por longos meses e o stress é garantido.
Abração
Eu tive problema com meu cheque caução na imobiliária. O fdp do dono do meu apto era um advogado dono do prédio em que eu morava e da imobiliária.
Entreguei o apto direitinho mas tive que ir ao PROCOM pra ter o dinheiro dos 3 aluguéis de volta.
Sabe o que ele alegou pro PROCOM? Que eu nunca havia me interessado em passar lá pra receber o cheque! Eu ia lá a cada 3 dias e ligava TODO dia mas ele nunca podia me atender.
Infelizmente o Brasil ainda está muito atrasado na defesa dos direitos do consumidor. Vc é sempre culpado até q vc mesmo prove o contrário.
Abraços,
Jeanne
Hilario!!!
Eu tambem passei por isso no estado da Georgia...Nao pensava 2 vezes pra retornar algo que nao gostei. Agora aqui.....xiiiii...
Bom, to atrasado mas vou comentar assim mesmo:
historia 1:
Aqui, a Michele foi na Canadian tire e comprou um jogo de facas para cozinha que custou mais ou menos 40 doletas (vem umas 30 facas). so que na semana seguinte, nao eh que a porcaria entra em promocao e cai pra 20 doletas ... ela ficou furiosa e levou o produto de volta pra canadian tire e disse que nao precisava de tantas facas assim e que queria devolver. A menina la disse, mas senhora, agora esta em promocao, se a senhora quiser, fica com o jogo de facas e eu te devolvo o dinheiro pra que vc pague o valor da promocao .. ou seja, devolveu $$$ e nem reclamou.
historia2:
Michele foi na Zeelers ( tipo uma lojas americanas daqui) e comprou uma toalha de mesa. so que quando chegou no caixa o preco da toalha tava mais caro do que o preco mostrado, entao a mulher disse que ja que a loja se enganou de preco, entao a toalha seria dada pra Michele DE GRAÇA !!!! imagina isso no BR ... na boa ... nego ia te deixar uma porrada de tempo ate algum infeliz ir la verificar o preço e vc iria pagar de qquer maneira ... essa eh a diferença daqui ... se vc nao gosta, vc nem precisa justificar ... eh so falar, nao quero mais, me da o $$ de volta e o povo te devolve na mesma hora.
Quando vcs estiverem prontos para vir, avisa .... vcs tem que vir visitar a gente aqui em Montreal ! e aproveitar pra conhecer a cidade .. quem sabe nao fiquem por aqui hehehe.
Pedrof
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